O livro, organizado pelas psicanalistas Clarissa Metzger e Adriana Pereira Barbosa, é fruto da 3ª Semana de Psicanálise da PUC-SP, com lançamento na sexta-feira, 7 de junho, às 19:30, no Quadrado Restaurante, em Pinheiros.

De acordo com o prefácio do livro, escrito pelas psicanalistas Clarissa Metzger, Adriana Barbosa Pereira e Paula Peron e o psicanalista Pedro Ambra, “a ideia das marcas do trauma indica que há algo do trauma que se mantém após a ocorrência do evento traumático em si. O trauma não se reduz a um instante, mas se prolonga no tempo em seus efeitos, em sua presença, o que torna importante situar e discutir suas marcas”, frente a tantos eventos que têm assolado a sociedade, como a pandemia, episódio traumático que ainda impõe efeitos; a guerra da Rússia x Ucrânia; e o desastre mais recente e avassalador ocorrido recentemente no Rio Grande do Sul que, certamente, terá efeitos na subjetividade e sofrimento psíquico àqueles que estão vivenciando tamanha tragédia e até mesmo dos que ainda que distantes se compadecem e também sofrem.

A coletânea contempla 15 autores e traz temas relevantes para pensarmos o mal-estar na contemporaneidade e como a psicanálise pode e deve se implicar nessas questões.

Três textos contemplam o tema infâncias, das psicanalistas Ilana Katz e Emilia Estivalet Broide e da professora e pesquisadora da PUC-SP Isabel da Silva Kahn Marin, nos quais as autoras propõe um debate que jogue luz ao traumático da vulnerabilidade social de crianças e adolescentes e as consequências na constituição psíquica dos mesmos, afim de que se possa construir uma práxis psicanalítica baseada em uma política do comum, uma vez que a vida social desigual, regida pelo capital e pelo mercado, é introjetada subjetivamente, criando abismos nas infâncias e adolescências brasileiras.

Outra questão pertinente é sobre a banalização da morte e o tempo reservado ao luto. “Quais os efeitos traumáticos e o sofrimento psíquico daqueles que perderam seus entes queridos na pandemia?”, se interroga a psicanalista Miriam Ximenes Pinho-Fuse. Quais impactos àqueles que não puderam fazer a cerimômia de luto e velar seus entes queridos? Corpos que não foram nomeados e que se transformaram em dados estatísticos?

Nos alerta a psicanalista Miriam Ximenes Pinho-Fuse, que assina um dos textos, “que se a morte é a grande democrata que arrasa a todos, animais e homens, ela é também aquilo que os diferencia, pois até mesmo os ferozes neandertais cuidavam de seus mortos. A sepultura, primeiro signo de humanidade, visa não só a velar a imagem terrificante da dissolução do cadáver como também a preservar, na memória coletiva, os seus vestígios, conferindo-lhes alguma duração. Do berço à tumba, os ritos e seus signos revestem e marcam a nossa passagem no campo social. As práticas rituais correspondem assim a um necessário exercício de humanidade do mesmo modo que a negação de qualquer tipo de cuidado ao cadáver é uma das mais cruéis formas de afrontar, apagar, aniquilar a sua existência como humano”.

A psicanalista Samantha Abouleac traz o seguinte questionamento: o que os psicanalistas podem fazer frente ao trauma? A interrogação da autora é feita a partir da leitura de Sonhos de Auschwitz, em torno de sonhos encontrados em campos de concentração e extermínio, sonhados na experiência limite da desumanização.

O psicanalista Luciano Elia se pergunta sobre o Desejo em contexto de guerra, o psicanalista Paulo Endo discorre sobre as querelas da Psicanálise e o psicanalista Jorge Broide traz a Psicanálise no contexto de situações críticas sociais, enfocando a prática que se dá no território da cidade em espaços públicos. Textos que nos fazem pensar sobre o “elitismo” da Psicanálise, o acesso a ela fora dos consultórios particulares e o quanto ela é ou não democrática.

A psicanalista Miriam Debieaux-Rosa e o psicanalista Diego Penha trazem a questão da colonialidade e da distopia. Já o psicanalista Kwame Yonatan Poli dos Santos, também autor de “Por um fio: escuta das diásporas pulsionais”, editado pela Calligraphie Editora, traz a seguinte pergunta: “O que pode a psicanálise brasileira frente à barbárie?”. “Marcas do Trauma: violência e mal-estar na contemporaneidade” é um livro necessário e que suscita questões sobre as quais devemos nos interrogar, enquanto psicanalistas, pesquisadores, educadores e, mais além, enquanto sociedade.

Serviço:
Marcas do Trauma: violência e mal-estar na contemporaneidade Organizadoras: Clarissa Metzger e Adriana Pereira Barbos Calligraphie Editora 1ª edição Páginas: 130 Disponível para venda: a partir de junho pelo site: www.calligraphieeditora.com.br

Lançamento Sexta, 7 de junho, às 19:30 Quadrado Restaurante Rua Pinheiros, 266 – Pinheiros Evento aberto e gratuito
Patrizia Corsetto é jornalista, radialista e psicanalista. Assina semanalmente a coluna de cultura

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