A tarefa de escrever um prefácio é sempre desafiadora. A partir do convite do autor, começa a nossa tarefa de dar pistas ao leitor do que ele encontrará a seguir, a cada virada de página, a cada folheada no livro. Escrever o prefácio é como deixar pegadas na areia, que serão cobertas a cada chegada da onda do mar. Será o prefácio capaz de capturar o leitor, a fim de deixá-lo refém das páginas que se seguem?
Foi assim que este convite chegou. Após o meu mergulho particular por mares da costa fluminense, desembocando em várias ilhas: Angra, Búzios, Ilha Grande, até desaguar em Ilha Bela, a bela ilha, já na costa paulista. Aportar.
No primeiro tempo, o pedido para editar a obra. A tarefa de cuidar da parte editorial do livro, da sua feitura, até deixá-lo palpável. Transformá-lo em objeto, em algo material, que se possa pegar e colocar na estante. Em um segundo tempo, o convite para assinar o prefácio: a captura. O que me fez mergulhar novamente. Desta vez, num mar de palavras, no doce balanço da poesia, na costura e na borda das letras. E, agora, transformar este mesmo livro em objeto de desejo, tanto de quem escreve quanto de quem lê, em algo que possa tocar a cada um, em particular, e de forma singular, num instante.
Na definição de Aurélio, poesia é “a arte de criar imagens, de sugerir emoções por meio de uma linguagem em que se combinam sons, ritmos e significados”, enquanto poema é “obra em verso ou não em que há poesia”.
Não raro, os autores que se aventuram pela poesia, sem serem poetas, se perguntam se o que escrevem é realmente poesia. Muitas vezes, esta pergunta é endereçada ao editor. O que responder? Há resposta? Qual o valor de uma obra literária? Certamente, este é outro capítulo ou um capítulo [a] parte.
Agrada-me mais pensar os [des] limites da palavra. O que há por trás dos ditos, onde há um dizer. Uma amiga psicanalista diz que “escrever é mascar, mascar e mascar as palavras até gastar”, ou ainda pode ser “… um dos mais doces privilégios dos poetas: exercer idiotices”, como diz Manoel de Barros.
Eu diria que escrever é despir-se lentamente, de preconceitos, de pudores, de medos, das amarras, das aparas, fazendo emergir o sujeito. E por nossa posição de sujeito sempre somos responsáveis, como diz Jacques Lacan. Enfim, escrever é um strip-tease da alma. Um rasgar-se e remendar-se, parafraseando Guimarães Rosa.
Mas o que quer um psicanalista que escreve? Transmitir e fazer a palavra circular. Escrever é ato! Este é o convite que Marco Correa Leite faz a você, leitor! Acomode-se na sua melhor poltrona, na sua rede, na varanda da sua casa, na meia luz da sua sala, em frente ao mar, em alto mar, e leia… Leia de um fôlego só, do início ao fim, ou lentamente, como quem saboreia um vinho e seu melhor fruto. Leia virando cada página, uma após a outra, ou salteando pelos versos que falam de amor, de morte, do ano novo, da noite, de corpo, de alma, do tempo…
Marco Correia Leite recomenda ao leitor: Queime antes de ler! Eu diria: Arda, depois de ler!
Porque poe [mar] não é outra coisa, senão bordar palavras.
Patrizia Corsetto
Queime antes de ler
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